14 de novembro de 2015

Sérgio de Castro Pinto

Esta não é uma resenha, mas uma anotação livre pelo impacto de me reencontrar com a poesia de Sérgio de Castro Pinto. Texto bem livre, talvez até com alguma inexatidão e erros, mas com legítima sinceridade. Texto livre numa tarde de descanso e prazer de saber que outros poetas nesta tarde se ofuscam em diversas paragens com os desentendimentos do homem no mundo.
Ter nascido no mesmo ano de publicação do livro Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima, me deixa sempre comovido. Só poderia conhecer essa poesia de construção inquebrável muitos anos depois, e não poderia praticá-la, pois seria andar numa estrada já trilhada. E depois me comove encontrar obra daqueles que produziram poesia nos mesmos anos por mim vividos. Nesta semana, ainda me encontrei com a poesia de Adriano Espíndola, que também nasceu em 1952. E depois foi a hora de me comover com o livro Domicílio em Trânsito, de Sérgio de Castro Brito, de 1983. O meu primeiro livro, A moenda dos dias, é de 1979, sendo que o primeiro que escrevi foi O susto de viver, de 1980. 
Surpreendente ler o livro de Sergio de Castro Pinto e encontrar o clima tenso do momento histórico que vivíamos e abordávamos em regiões distintas. Prova de que a ditadura angustiava a todos os escritores do país. O medo subjacente, o vazio de estar se sentindo inútil numa repartição público, pois viemos de uma geração participativa.  
Mas neste livro de Sérgio de Castro Pinto está um dos poemas que leio sempre como um símbolo de composição, de poema que nasce para representar uma geração e a validade do ato de produzir poesia. "Duas odes à borracha" tinha sido publicado em 1970 no livro A ilha na ostra, por isso a nossa contemporaneidade. 
A borracha não é algo estanque, que simplesmente anula. Na poesia de Sérgio de Castro Pinto, a borracha é abordada como se fosse o próprio homem do período do regime militar. Há um verso que lembra que há outras "borrachas que solidárias" quer limpar outras borrachas, que certamente não continham sol, pois preocupadas em enegrecer com seus erros

a borracha alimenta-se
de medo e do inexato 

Fico esperando que um poema como este, escrito no mesmo ímpeto de uma Máquina do mundo, tenha uma luminescência no conhecimento da nacionalidade. Com um poema destes podemos reconhecer que somos seres que desejam estar instaurados fora do caos.

Eu, Sérgio de Castro Pinto, Alberto da Cunha Melo, Adriano Espindola, Brasigois Felicio, Gabriel Nascente, e tantos outros, vindos de um mundo falido, tínhamos de organizar outro formato de produção poética, de questionamento da realidade. Em determinado momento, talvez ele se torne mais compreensível. Nosso mundo caótico, repressivo, ainda não analisado e compreendido com algum formato melhor elucidado. Vai surgindo outras gerações e parece que esta que resistiu não pode ocupar algum momento de clareza, que deva permanecer ali no limbo intocável de todos os erros do período. E a poesia dos anos de chumbo era guerreira, viva, sanguínea, que cataliza todo o medo e fracasso. Ma é uma poesia vitoriosa, resistente, mesmo quando os temas são sutis e emergem com o homem angustiado e perseguido. É uma honra ter produzido neste período e poder estar buscando outros formatos de ajuste poética em outros tempos, também sombrios, pois sem metas e, pior ainda, sem compromisso com o humano. 
Deixo aqui um abraço afetuoso para Sergio de Castro Pinto, que lá em João Pessoa, busca e incentiva. Busca e pensa formatos. É importante ver poetas que motivam a juventude para arte. E Sérgio de Castro Pinto incentiva. E Jamesson Buarque incentiva â exaustão. 
Voltarei a João Pessoa só para me encontrar com Sérgio de Castro Pinto e nos sentarmos diante de uma paisagem.

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