22 de junho de 2014

Por mim, não será dado fim ao dia, os lilases
não se incorporarão à intriga da noite.
Por mim, as paisagens desejadas 
brilharão em montanhas de ventilados verdes,
em nuvens de todos os Himalaias.

Alguns não se importam com a condução 
de retornar às ruínas de Bizâncio,
reconstruí-la com os próprios punhos.
Não escravizar os homens das aldeias
felizes debaixo das pompas de floridas faias.

Por mim, não será dada a ordem
à tropa de cercar os açoites dos vândalos.
Sejam arrancados os retrovisores,
e falhe o corujão de levar o último trabalhador.
Os homens caem. Os homens se levantam.

Por mim, pode ser oficializado o capuz.
Não induzi à fome, escapei do pau-de-arara.
Não velejei na nau que trouxe a carga
de homens recolhidos nas aldeias.
Recortei a minha telha de cara limpa.

Por mim, não caia a hera do palácio,
do muro de retornar ao campo.
Tive a face às claras no exílio de um quarto
tomado de triponossomas e pus.
Não posiciono na esquina o aparelho.

Logo as palavras em todas as redes.
Quantas vezes destruída Bizâncio
na hora do aríete e do incêndio.
Quantas vezes reerguida e renomeada
na hora do trabalho e do diálogo.




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