2 de abril de 2012

ENVOLTO EM SAL


se a esperas, terás a tua recompensa
envolta em sal, esticada numa pele nua.
em ti mesmo estarás estirado na secura,
couro para a trança útil nas mãos do antepassado,
estímulo àquele que de ti aguarda o futuro.
terás. a recompensa será a mulher
a esquecer-se numa tarde de trabalho,
talvez tão perto de tua aspereza, numa bancada.
se a queres de madeira, de bálsamo a terás.
se desejas a clareza, o homem ilumina
e após o escuro terás pedrarias
de cio e cal. e não silenciarás.
se em ti falta equilíbrio, aguarde.
se em ti faltam os beijos, se em ti faltam os lábios
a recompensa trará envolto em sal
o húmus para teus beijos mortos.
se em ti, se na tua pátria faltam os heróis,
virão das fronteiras universais as flâmulas
para teus heróis, e elas serão das peles
secas dos godos novos, preparadas
com gases, do sêmen seco das virilhas.
e terás tuas bétulas, teu zarcão
antes de comer teu pão e tuas trevas.
se em dias de anotações inúteis
aguardas recompensas, terás cálcio,
cola, sola, pinos. e se souberes,
calcificarás, grudarás, amarrarás,
fixarás com os manifestos dos teus dias.
terás a recompensa em divertidas
ondas para teus mares, e voos
já não deixarão teus ares imóveis,
as folhas verdes não acreditarão
que estarão em tua lápide. a recompensa.
aguarde enquanto calcificas, enquanto fixas
com teu couro seco, útil, recortado.

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