Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
10 de abril de 2010
Maria Gadú
Tenho passado os ouvidos pelas novas vozes da música brasileira. O grupo Moinho é encantador pelo conjunto de músicos, pelo lado experiente de cada individualidade (Emanuelle Araújo é perfeita dentro do Grupo, mas não sei se funciona dentro de um outro formato).
Mas ouvir Maria Gadú foi uma surpresa. Voz confiante, sem chiados, aveludada, com um pouco de rouquidão. Fui apurar e vi que ela tem sido alavancada pela rede Globo — o que é salutar por um lado e desastroso por outro, pois acaba enfiando o músico por caminhos comerciais. Foi o caso de Ivete Sangalo, que acabou, junto com Ana Carolina, com vozes excessivamente num timbre de arrogância. A gente vai ouvir estas duas e as vozes não estão querendo cantar, mas querendo dizer "eu sou a melhor", e as letras? Letras cheias de ideologia egocêntrica. E, no fim, só servem para passar falsos valores, como venda de publicidade de cerveja em vez de venda de ética e de musicalidade. A voz empostada na arrogância e não na música.
Espero que Maria Gadú não seja contaminada, empurrada para a arrogância do mercado. Que no seu próximo disco já não seja preciso inclusão de músicas como "Baba". Isso é a ilicitude e a idiotice de mercado. É impecável cantando Chico e até versão de "Shimbalaê", na trilha de novela. Gadú pode abandonar o violão, pois a sua voz já a torna inteira — deixe que os outros toquem, arranjem e façam para ela. Gadú pode só en-cantar. Que Maria Gadú tenha vida longa, sadia, para brilho da música brasileira.
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