Na próxima quarta-feira, 23 de setembro de 2009, às 19h, participaremos do Tributo que Biblioteca Nacional de Brasília prestará ao poeta Afonso Félix de Sousa (Jaraguá-GO, 1925). A poeta Astrid Cabral, viúva do homenageado, comparece à Capital para fazer a conferência sobre vida e obra do autor, e , junto com os poetas Alexandre Marino, João Carlos Taveira, participaremos do recital lendo polemas seletos do autor, além da participação da jornalista e escritora Ana Cristina Vilela no papel do famoso poema a Moça de Goiatuba.
Auto-retrato
Afonso Félix de Sousa
A maneira de andar
como quem busca
estrelas pelo chão.
A cabeça a dar contra muros.
Em cada olho, o mundo como um punhal
-- cravado.
O pensamento a abrir estradas
numa várzea distante.
Os ângulos do sonho formando orlas
povoadas de fêmeas
que a meu encontro viriam
do outro lado, em lânguidas posturas.
Diante do mar, a sede, a sede
de beber a vida em infinitas viagens.
As garras de gato ante paredes impostas.
A impaciência de que chegue a manhã e a praia,
a tarde e o amor.
A maneira de andar
como a fugir dos homens
-- e tê-los contra o peito.
O pensamento a atirar pedras
contra as vidraças
que guardam os produtores frios
de injustiças.
O coração que bate
ao som de fábulas.
Que bate
contra rochedos mortos
numa praia de cinza
onde palpita o primeiro amor.
O coração eterno.
O amor eterno
que bate.
A alegria! A alegria!
Íntima, espantada de si mesma, gloriosa
como palmas a se abrirem aos quatro ventos,
a alegria de sentir-se vivo, alegria
de bicho do mato, criança, dominada,
eterna.
Não basta uma safra, senão há a esterilidade. A poesia é meu território, e a cada dia colho grãos em seus campos. (Linoliogravura do fundo: Beto Nascimento
18 de setembro de 2009
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