2 de novembro de 2007

Agora é definitivo.
Dia 29, às 19h, a convite do poeta Antonio Miranda, faremos uma homenagem ao poeta José Godoy Garcia na Biblioteca Nacional de Brasília, que fica ao lado da rodoviária do Plano Piloto. Paralelamente, estamos coordenando o material para uma edição especial do Opção Cultural, de Goiânia, editado pelo poeta Carlos Willians e por Euler Belém, para distribuição no dia do evento. Como o Godoy é de Jataí, Goiás quer estar presente na homenagem. Já confirmaram que escreverão matérias sobre José Godoy Garcia para a edição especial: Alaor Barbosa, Antonio Carlos Scartezini, João Carlos Taveira, Brasigóis Felício, e Juliana Godoy (neta do poeta homenageado). Para a leitura dos poemas que ilustrarão nossa palestra, estamos contando com a participação das garotas Juliana Godoy, Luana Oliveira (que está quase confirmando a participação junto com o Augusto).

Como sempre acordei muito cedo neste dia de Finados. Deixei rodando um DVD de Bob Dylan. E, ao ler o poema "Irmão", de José Godoy Garcia, fiquei pensando como uma certa juventude da pós-modernidade já nasce morta. Alguma juventude tem passado o tempo todo sem acreditar em nenhuma mudança, em nenhuma revolução, em nenhum herói. Vivemos uma época que não constrói mais heróis. Fico imensamente triste e até mesmo constrangido quando leio, por exemplo, uma crônica "esculhambando" com Che Guevara. Será que foi a juventude de meu tempo que foi mais idiota? Ainda continuo procurando ser "irmão de uma certa revolução", pois o pior é ser irmão de uma certa descrença, de uma certa apatia que não fará nenhuma mudança.



Irmão


José Godoy Garcia


Eu não fiz uma revolução.

Mas me fiz irmão de todas as revoluções.

Eu fiquei irmão de muitas coisas no mundo.

Irmão de uma certa camisa.

Uma certa camisa que era de um gesto de céu

e com certo carinho me vestia, como se me

vestisse de árvore e de nuvens.

Eu fiquei irmão de uma vaca, como se ela

também sonhasse. Fiquei irmão de um vira-lata

com o brio com que ele também me abraçava.

Fiquei irmão de um riacho, que é nome

de rio pequeno, um pequeno que cabe

todo dentro de mim, me falando,

me beijando, me lambendo, me lembrando.

Brincava e me envolvia, certos dias eu

girava em torno do redemoinho do cachorro

e do riacho e da vaca, sem às vezes saber

se estava beijando o riacho, o cachorro

ou a vaca, com um grande céu

me entornando, com um grande céu

com a vaca no lombo e com o cão,

com o riacho rindo de nós todos.

Eu fiquei irmão de livros, de gentes.

Eu fiquei irmão de uma certa montanha.

Irmão de muitos rios.

E fiquei irmão de uma certa idéia,

e tive sorte, não me assassinaram

como a milhares de meus irmãos,

e provei a mim mesmo

a minha fidelidade.

Fiquei irmão de muito cidadão de nome certo.

Fiquei irmão de uma certa bebida,

uma certa bebida que se chama ceva orvalhada.

Um ritual de estima: amigos, futebol, poesia,

minha doce donzela de vestido amarelo

e mais as outras tantas donzelas

de vermelho, grená, cinza, branquelo,

os vestidos mais belos e os mais singelos!

Eu gosto de mim, de meu porte nem sei,

de minha doce e embalante imaginação,

de minha frágil e destemida poesia.

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