16 de outubro de 2006


A vida e a obra de Puchkin, o poeta russo, sempre me atraíram. Por dois motivos: é um poeta que sempre aparece intercalado na história dos demais escritores russos, já que é um dos fundadores da moderna literatura russa. E, depois, as circunstâncias de sua morte. Em duelo com o sedutor de Nathalie, sua mulher (não compensa morrer por uma dama tão bela — olha ela aí no desenho?). Há tempos comprei, e nunca assisti, a ópera Eugêne Oneguin, já que o poema épico de Puchkin só sairá em tradução para o português — pelo menos está previsto — agora em 2006. Dentro dessa curiosidade pela vida do grande poeta, estou lendo O botão de Puchkin, estudo sobre os últimos anos do poeta, visando esclarecer a sua morte, feito pela italiana Serena Vitale. O livro reflete boa pesquisa, bom ordenamento do material, e dá vivacidade aos fatos.
Não resisto. Transcrevo aqui o poema (vejam a ousadia dos versos finais, já que foi escrito numa época de total servilhismo ao csar):

À maneira de Pindemonte

De Alexander Puchkin
Tradução de Joana Angélica D'Ávila Melo

Não me apego aos direitos reboantes
que a muitos homens viram a cabeça.
Não choro se os deuses me negaram
a sorte de opor-me a privilégios,
ou de impedir os reis de entrarem em guerra.
Em nada me magoa que a imprensa
açoite os parvos, que a censura alerta
persiga os cultores do motejo.
São só "palaras, palavras, palavras".
Outros direitos me são caros, e outra,
mais alta e bela liberdade eu amo:
servos de plebe ou servos de poder,
não será tudo o mesmo? Não prestar contas
a mais ninguém, servir e comprazer
a si mesmo somente, não baixar
a cabeça às coroas, às librés,
vagabundear conforme dita o estro,
deixar-se seduzir pela beleza,
comover-se perante a natureza,
perante as criações da mente. Isto é
felicidade, estes os direitos.

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