21 de setembro de 2006

A ARTE DA CALHORDICE

Desde o fracasso dos regimes socialistas, foi decaindo a importância do envolvimento social da obra de arte. E essa tendência mais recrudesceu com o sucesso dos movimentos de vanguarda. Passou-se a preocupar mais com a liberdade individual, que cresceu tanto que passou a prevalecer sobre a ética coletiva.

Não pregamos o policiamento da arte, mas o questionamento das vozes em que é feita a obra de arte. Dependendo da voz em que ela é composta, acaba servindo a interesses prejudiciais à formação do indivíduo e à pratica da sociabilidade. Ainda recentemente ouvi um texto que usa a voz de um elemento criminoso para desancar a paz. É preocupante, pois o texto serve à apologia da violência àquele que não está inserido no ordenamento da paz, pois o texto não apresenta um contraditório a esta voz que prega a apologia violenta.

Outro susto dentro de minha casa. Dois artistas de ampla aceitação popular apareciam na tela da televisão, com rostos esborrachados, transpirando a bebida e cantando uma música de apologia à cerveja. Acreditei que se tratava de uma propaganda contratada pela indústria do setor. Como o clip foi se estendendo, extrapolando os limites de um comercial, pude constatar que era uma música já inserida no gosto popular.

Portanto, não era a arte da breguice, mas a arte da calhordice. Leonardo e Zeca Pagodinho, talvez atraídos (ou mesmo remunerados) pelo mercado, tenham aderido a uma publicidade indireta numa área que mais dá prejuízos ao país: a bebida. Prejuízos com a saúde individual, com o ordenamento da família e a produção no trabalho. Adoeço todas as vezes em que passo pelas pequenas cidades de meu Goiás e noto a juventude adoecendo com "a latinha na mão". Lamentável que a arte se proponha à calhordice do chamamento comercial.

Um comentário:

  1. Apareça sempre!
    não só pelo Borges (que já seria um válido motivo), mas... é que meu blog é Res Publicae!

    Até...

    Samantha!

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